José Saramago

25.9.06 at 3:33 da tarde

Saramago na blogosfera

Um percurso por alguns blogues: Hard, cutting, Outro, eu, Lee Tamargo, Leitura Partilhada (vários posts, no seguimento deste), Esquina Montevideo, Brave New Book.

at 3:16 da tarde

"Ensaio sobre a cegueira" dá origem a filme

Pela sua manifesta relevância didáctica, cito o jornal Público de 16 de Setembro de 2006, em particular uma notícia assinada por José Mateus:

«Estreia em 2008
Saramago "A história que escrevi ficou em boas mãos"

Blindness vai ser o título do filme realizado por Fernando Meirelles a partir do livro Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago. O escritor está entusiasmado.

Os filmes Estação Central e o mais recente O Fiel Jardineiro são a razão por que José Saramago gostou de saber que o seu romance Ensaio sobre a Cegueira vai ser adaptado para cinema pelo realizador brasileiro Fernando Meirelles.
"A produtora canadiana [Rhombus Media] escolheu-o para dirigir o filme e eu concordei em função do trabalho que conhecia dele", disse o escritor ao PÚBLICO. Saramago viu aqueles dois filmes. Daí que não hesite: "Achei que a história que escrevi ficou em boas mãos. Entre tantos directores que existem a produtora inclinou-se para ele e fiquei contente. Estou convencido que vai fazer um bom filme."
Do filme, pouco mais se sabe além do título em inglês - Blindness. É uma co-produção entre o Brasil (através da o2filmes, produtora a que está ligado Meirelles), o Canadá, o Reino Unido (Potboiler Productions, produtora de O Fiel Jardineiro) e o Japão (Bee Vine Pictures). Segundo disse o produtor canadiano Niv Fichman no Festival de Toronto, onde o projecto foi apresentado anteontem, Saramago gostou da ideia de uma co-produção internacional, sem uma "voz dominante", e da promessa de que o filme não cairia nas mãos de um grande estúdio de Hollywood.
Blindness será falado em inglês, mas os actores não foram ainda escolhidos, e já tem orçamento. São 16 milhões de euros, diz a Folha de São Paulo, que acrescenta outros pormenores: será rodado em meados de 2007 nos arredores de Toronto (onde a produção começou esta semana a procurar um espaço para o asilo que aparece no livro) e de São Paulo (para as cenas de exteriores e sem identificar a cidade, tal como no livro). Blindness deverá estrear até Março de 2008.

Saramago não vai interferir
O Nobel da Literatura português diz que não pretende intervir no filme. "Conheço evidentemente o guião, também o aprovei. Agora, o filme vai ter de passar pela percepção que o director tenha. Sou um autor de um livro, não sou um autor de um filme. As pessoas têm de trabalhar livremente e não têm que ter uma pessoa a olhar por cima do ombro a ver o que elas fazem."
O argumento foi escrito pelo canadiano Don McKellar, que este ano foi indicado para o Tony de melhor argumento pelo musical The Drowsy Chaperone (na Broadway). "A acção do livro é muito simples e clara. E quando nos acostumamos ao estilo, torna-se bem fácil, porque a linguagem é bem oral", disse McKellar, que quer respeitar o livro: "Se eu apenas recontar a história, se transformar os cegos em zombies, o filme será um erro, vai soar como um filme de género, de terror ou de acção, com um sub-enredo de vingança, o que seria uma desculpa para violência gráfica, como em muitos filmes americanos. Isso não seria fiel à obra. O tema essencial do livro é a dignidade humana. E como os artifícios para mantê-la, na nossa sociedade, são frágeis."
Será um filme fácil de fazer? José Saramago diz que "fácil não será, mas, hoje, tudo o que se quer fazer em cinema faz-se, com os efeitos especiais. Há uma grande margem de manobra". "Espero que saia bem. Estou convencido disso." Saramago também não tem receio de que o filme seja uma interpretação mais livre da sua obra: "O filme não seguirá o livro, segue o guião. O realizador não está a olhar para o romance." (O livro fala uma praga de cegueira, inexplicável e incurável, que começa num homem que está a conduzir e, lentamente, se espalha pelo país. Mostra o desmoronar da sociedade que, por causa dessa cegueira, perde tudo aquilo que considera como civilização.)

O escritor e os outros
Saramago não sabia que já tinham sido escolhidos os locais de filmagem - "chegou a falar-se de Hong Kong" -, mas diz que isso pouco importa para o filme. "No cinema podem criar atmosferas pela luz, até podem transformar uma rua de Toronto numa outra coisa." O facto de o filme ser falado em inglês é também irrelevante: "Agora só vemos filmes que são falados em inglês. Diga-me quantos filmes falados em francês ou italiano estão nos cinemas de Lisboa? Provavelmente nenhum."
Ao escritor agrada que os seus livros despertem interesse no cinema - A Jangada de Pedra foi a primeira adaptação. Foi realizado pelo francês George Sluizer em 2002. "Estão a ser transportados para o cinema, mas também para a ópera, teatro e para a pintura. O pintor Agostinho Santos vai fazer uma grande exposição sobre os meus livros. Isso significa que outras expressões artísticas encontram nos meus livros uma ressonância. Agrada-me, confesso."
A Folha descreve ainda uma primeira tentativa falhada de Fernando Meirelles em comprar os direitos da obra do autor português. Foi em 1997 e, escreve o jornal, Saramago não quis, "argumentando que não havia muito sentido em transformar em imagens uma história sobre a cegueira". Acabou por chegar ao livro de outra forma. "O engraçado é que voltou para as minhas mãos", disse Meirelles em Toronto.
Saramago diz que esse episódio não está claro - "não me lembro da carta, se carta houve, e não me recordo se lhe respondi ou não". A situação agora mudou e Saramago e Meirelles já estão em comunicação: "Não falei com ele, mas temos trocado cartas."
O escritor já está ansioso para ver a abordagem de Meirelles à sua obra? Não: "Essas coisas têm que ter o seu tempo. Não vale a pena um pai estar ansioso por ver um filho porque tem de esperar nove meses..."». A hiperligação foi acrescentada.




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